Vivemos em épocas cujos padrões de qualidade
oferecidos pelas empresas seculares também têm experimentado o seu
reflexo até mesmo dentro da própria Igreja. Isto significa que a busca
pelo "pastor ideal", com alto padrão de qualidade, isto é, uma espécie
de pastor que tenha o certificado ISO 9000, tem sido bastante grande.
Porém, a pergunta que faço é: "Existe, de fato, o pastor ideal?". Bem,
acredito que a resposta a esta pergunta seja um veemente: "não!".
Entretanto, não há como negar que há uma certa "insatisfação pastoral" quase
que generalizada em muitos arraiais evangélicos mundo afora,
insatisfação esta que denuncia a necessidade que as ovelhas têm de
encontrar um modelo de líder eclesiástico em quem possam se espelhar e
depositar a sua confiança. Porém, tal "padrão de qualidade pastoral",
longe de ser uma realidade alcançável, demonstra ser, pelo contrário, um
ideal utópico, impossível de ser atingido. Tal fato pode ser
demonstrado nas linhas que seguem:
1. Se o pastor é jovem demais, então ele é inexperiente; se já possui cabelos grisalhos, é considerado velho demais.
2.
Se o pastor tem três ou quatro filhos, ele é visto como um homem
relaxado, que não soube ter um "controle de natalidade" eficaz; por
outro lado, se ele não tem nenhum filho, é visto como uma pessoa egoísta
e que não tem a mínima autoridade para falar sobre filhos, já que ele
não os tem.3.
Se o pastor chama a atenção das crianças quando fazem barulho durante o
culto, ele é insensível e não gosta de crianças; se, porém, ele não
chama a atenção delas, ele é um líder que não está nem aí com a ordem do
culto e com as "coisas de Deus".4.
Se a esposa do pastor canta no coral, é porque ela está querendo
aparecer; contudo, se ela não canta, é porque ela não tem o mínimo
interesse em apoiar ao seu marido em seu ministério.5.
Se o pastor prega durante apenas meia hora, é porque ele não tem
conteúdo; se ele prega durante uma hora, então é um prolixo que não tem
domínio próprio sobre a sua língua.6.Se
o pastor dedica bastante tempo aos seus estudos bíblico-teológicos, ele
é racional demais e também é anti-social, pois não dá a menor atenção
ao rebanho; se, contudo, ele vive visitando os fiéis, é porque é um
desocupado que não tem algo mais importante a fazer.7.Se
o pastor é daqueles que usam muitas ilustrações em suas pregações, ele é
visto como um mero contador de histórias (uma espécie de Forrest Gump
gospel), o qual não se preparou adequadamente no estudo da Bíblia; mas,
se ele não utiliza ilustrações em seus sermões, estes são tidos como
frios, enfadonhos e chatos.8.
Se o pastor recebe um salário "gordo", ele é um mercenário e
interesseiro, pois só está no ministério por causa do dinheiro; se ele
se contenta com um singelo ordenado, é porque não dá o mínimo valor ao
seu ministério pastoral.9.
Se o pastor conta piadas no púlpito, ele está cometendo um sacrilégio,
pois está se comportando como um mundano; se ele não usa nenhuma anedota
em seus sermões, a sua mensagem é "sem graça".10.
Se o pastor cita palavras em hebraico ou em grego em suas mensagens,
ele está querendo se mostrar; agora, se ele não faz nenhuma citação
nestas línguas, então ele é inculto e ignorante;11. Se
o pastor costuma usar o púlpito todos os domingos para pregar, ele é
egoísta e vaidoso, porque só pensa em si mesmo; já se ele cede a
oportunidade para outros pregadores, é porque está se eximindo de suas
próprias responsabilidades.12.
Se o pastor prega a respeito dos dízimos, ele é ambicioso e só pensa em
dinheiro; se não o faz, ele está negligenciando o sagrado ensinamento
sobre o dever da contribuição.13.
Se o pastor prega sobre a santificação e o arrependimento, ele está
"descendo o cajado" nas pobres das ovelhas; se ele não aborda tais
assuntos, é porque ele deve ter "culpa no cartório".14. Se
o pastor usa um terno diferente a cada domingo, ele é um exibicionista e
um ostentador que, muitas vezes, só está se vestindo bem às custas da
igreja; mas, se ele usa quase sempre a mesma indumentária, é criticado
por não saber se vestir adequadamente no "dia do Senhor".15.
Se o pastor concede a oportunidade para os membros mais abastados da
igreja desempenharem o serviço cristão, é porque ele está de olho no
dízimo deles; se, entretanto, ele concede tal oportunidade aos mais
pobres, ele está querendo fazer o seu marketing pessoal espiritual.
16.
Se o pastor vive telefonando para as suas ovelhas durante a semana, é
porque ele "não dá um tempo" e só se preocupa em "sufocar" e "policiar" a
vida dos seus arrebanhados; todavia, se ele não liga pra ninguém, é
porque ele não está nem aí com a situação espiritual das ovelhas.17. Se o pastor trabalha na igreja full time (por
tempo integral), ele é um sujeito aproveitador que, por não ter
conseguido um "trabalho melhor", só quer saber de "sair no lucro" de
forma fácil; por outro lado, se ele trabalha meio período na igreja e
meio período em um serviço secular, é porque ele não dá a mínima
importância para a "obra do Senhor", pois a está fazendo de "qualquer
maneira".18.
Se o pastor "dirige o culto" de domingo de maneira que este termine
mais tarde, ele é desorganizado e relapso, pois não está preocupado com o
fato de que os irmãos terão que levantar cedo na segunda-feira para
trabalhar; mas, se o culto termina no horário ou mais cedo do que o
previsto, ele não é "espiritual, o bastante" para deixar o culto "fluir"
no Espírito.
Ora,
diante destes e de muitos outros exemplos que poderiam ser citados,
chego à seguinte conclusão: "SER PASTOR É MUITO DIFÍCIL!". E toda esta
dificuldade se deve, em parte, ao fato de que muitos membros projetam em
seus pastores a figura utópica do líder ideal (ou "Super Líder"), o
qual tem a responsabilidade de ser sempre: o melhor pregador, o melhor
teólogo, o melhor companheiro, o melhor administrador do culto, o melhor
pai, o melhor marido, o melhor amigo, o melhor conselheiro etc.
Detalhe: Todos esses bons predicados têm que coexistirem sempre ao
mesmo tempo no pastor, sem exceção! E ai dele se não for perfeito em
tudo!
Porém, a essa
altura da nossa reflexão, creio que seja importante deixar registrado
aqui dois recados: um para os pastores e outro para as ovelhas.
Primeiramente,
me dirijo aos pastores. Caro pastor, não tenha a pretensão de agradar a
todas as ovelhas em seu ministério, pois isso jamais acontecerá. Sempre
haverá pessoas insatisfeitas com o culto, com a mensagem, com o louvor e
até mesmo com você! Porém, não se deixe desanimar diante disso. Aliás,
não use isso como justificativa para não oferecer o seu melhor a Deus e à
Sua Igreja. Se Deus o vocacionou ao pastorado, vá em frente! Busque dar
aquilo você tem de melhor no ministério e creia que o Senhor o
abençoará.
Agora, falo
às ovelhas. Nobres ovelhas do aprisco do Senhor, tomem cuidado para não
exigirem demais de seus pastores. Não se esqueçam que eles não são
"super homens". Pelo contrário, são tão humanos quanto vocês. Eles
também enfrentam diariamente os mesmos problemas e as mesmas
dificuldades que vocês enfrentam. Além disso, não exijam demais da
esposa do pastor e do(s) filho(s) do pastor, impondo-lhes um nível de
"santidade" e de "comportamento exemplar" que nem mesmo vocês ou seus
filhos conseguem desempenhar. Respeite o seu pastor e ore muito por ele,
pois, assim como você, ele também precisa de muito apoio, de muita
compreensão e, acima de tudo, de muita oração.
Bem,
acredito que ao término desse nosso pensamento duas coisas tenham
ficado bem claras: assim como não há o pastor ideal, também não há a
ovelha ideal. A Igreja de Cristo é composta por pastores e ovelhas
imperfeitos, falhos e pecadores. Todavia, tanto um como o outro buscam
almejar para as suas vidas o exemplo de perfeição que o Sumo Pastor,
Jesus Cristo, lhes inspira.
Ora, Àquele que é o Único Pastor Ideal, o Sumo Pastor das nossas almas, sejam o louvor e a majestade para todo o sempre!
Em Cristo,
Autor: Carlos Augusto Vailatti